Neste post apresento a primeira experiência pós UHF 2014: o caminho até a República Tcheca. As tentativas no maior highline que já andei. As particularidades deste local cheio de história são contempladas pelas fotos que ilustram o relato.
________________________________________________________________________________
Escolher que a parada após Lublim iria ser na República Tcheca, não foi uma tarefa fácil. Muitas pessoas indo para diferentes lugares e todos eles com uma beleza peculiar. Como aconteceu uma afinidade maior com Preston e Faith, que tem como local de residência no verão Ostrov, decidimos ir para lá.
Ouvi falar muito bem do local, das pessoas, de sua beleza, suas particularidades e dos belíssimos highlines. Saimos de Lublim de trem com destino a Wroclaw. Fizemos destas oito horas de trem uma viagem e tanto, violão redes, slackline, diversão e muitas risadas. Passamos a noite na casa do Janek, e no próximo dia seguiríamos pedindo carona até Dresden e depois até Ostrov ( que significa ilha no Tcheco, por ser um vale bem isolado das cidades ).
Rio Elbe e Fronteira entre Alemanha e República Tcheca |
Ostrov é uma referência mundial na escalada em Arenito (sandstone), localizada na região conhecida como paraíso do Arenito, que compreende outras áreas na República Tcheca e Alemanha nos arredores do rio Elbe. A primeira ascensão é datada em 1803 em um estilho que utilizava escadas de corda que eram colocadas nas fendas. Atualmente não é permitido o uso de magnésio e nenhum elemento de aço, a maioria das vias contam com pouquíssimas proteções fixas, e o resto é feito, quando possível, por nós e fitas através dos buracos. Essa pedra é bem sensível, levando a esfarelar mais facilmente, por isso existe um código de 24 horas de espera para escalar após as chuvas. São diversas torres que se espalham por toda a região, com alturas atingindo 35 metros, e graus de dificuldade podendo chegar até o décimo. Local de muita história, e formador de escaladores fortíssimos. De uns 6 anos pra cá o highline começou a ser praticado, e tendo que se adaptar a estas situações, para realizar a ancoragem, é preciso de muita criatividade e muitos slings. Estilo batizado de Czech Style, por ser um pouco sketchy (imcompleto).
Detalhe da proteção fixa. |
Ao chegar no local, poucas construções e muito verde, o sentimento de paz tomou conta. Foi como transpor um portal, e em que tudo se transforma. O local, além de muito aconchegante, tinha um preço bem acessível, com restaurantes, opções para pernoitar, camping e cabanas.
Alguns slackliners já se encontravam por lá, e a maior linha do local estava montada. Com seus 96 metros de comprimento e batizada de Master of Universe por Jerry Miszemski em 2011, chamava a atenção de quem se encontrava no restaurante.
Do grupo de praticantes muitos eram locais da República Tcheca, outros da Alemanha, Holanda, Inglaterra, Estados Unidos e eu de brasileiro. Os dias eram sempre muito tranquilos, as pessoas acordavam cedo e se dirigiam aos highlines armados após uma boa refeição, quando a chuva não estava presente pelas manhãs. Era possível ver muitas famílias com crianças escalando fazendo trilhas e aproveitando esta linda área preservada.
No total tinham 4 linhas montadas, uma de 22 metros, outra de 38 metros e mais uma de 62 metros, além da Master. Todas estas eram na mesma área, o que tornava este local ótimo para todos os níveis. A mais curta era a única com fita de backup, uma situação que não se encontra muito por aqui. A grande maioria dos highlines são montados com cordas de backup, entre estáticas e dinâmicas variando conforme a distância do highline. É algo que venho me adaptando, e pretendo trazer uma corda dessas para utilizar nas minhas montagens.
Em Ostrov as linhas ficam relativamente próxima as árvores se tratando de altura, o que de certo modo facilita um pouco devido a pouca exposição. Porém é uma natureza tão viva, que encanta e hipnotiza conforme você esta atravessando o highline. Gostei muito da tensão que estava a fita de 62 metros, como setup uma fita de nylon e corda dinâmica de backup, proporcionava muitos bounces e ao mesmo tempo uma grande estabilidade. Foi a minha maior travessia onsight (quando você atravessa na primeira tentativa) até o momento. Depois da travessia virou pura diversão, muitos e muitos bounces, alguns leash falls, e um controle cada vez maior.
As seções de highline só eram interrompidas pela chuva que vinha sem avisar, ou pela necessidade de comer. E quando éramos pelo pela chuva o local tornava-se mais mágico ainda. Suas cores se acentuavam e era possível ver melhor suas características de uma maneira diferente.
Aos poucos as pessoas foram indo embora e só ficaram os americanos Preston e Faith. Com isto as linhas foram desarmadas, mas resolvemos rearmar a maior de todas. Utilizamos minha T-18 da Balance Community com a mesma no backup. Logo após armar tive minha segunda seção de tentativas nesse highline, havia tentando quando o Samuel Volery e o Yuri montaram com fitas muito leves. A primeira tentativa foi muito boa, atravessei com 3 quedas, fiquei muito feliz e motivado. Estávamos bem cansados devido a montagem. Nos próximos dias após armar não conseguimos andar muitas vezes devido ao tempo chuvoso, aproveitamos então para escalar e fazer waterline.
Tiveram mais dois dias de tentativas, no primeiro após a montagem a fita estava com 540 kg de tensão. Foi com esta tensão que tive minhas melhores tentativas, chegando muito perto de atravessar sem quedas. Caminhei em ambas as direções com uma queda apenas, estava muito feliz e aproveitando muito aquele highline. Não me preocupei muito com a travessia perfeita, queria apenas me divertir e era exatamente isto que estava fazendo.
Na escalada foi a minha primeira experiência com fendas, estilo que necessita de uma técnica especial. Senti grande dificuldade no começo, devido a falta da técnica adequada e por estar entrando em vias difíceis guiadas pelos locais, estava muito motivado com a experiência e com os dias fui me adaptando. Escalei no total 6 vias e 4 cumes de torres diferentes. Fiquei muito feliz em aprender um pouco deste estilo, e compartilhar da história presente nestas vias e agregar mais em meu recente histórico na escalada.
O waterline foi montado no lago com uma distância aproximada de 70 metros. Waterline por si só é um desafio, o reflexo o movimento da água são fatores que dificultam bastante. Outra coisa bem peculiar, é que na República Tcheca, as pessoas tem uma liberdade bem grande se tratando do corpo. Quando elas vão para os lagos e lagoas não levam roupas de banho. Vendo as pessoas tão a vontade, me arrisquei nesse novo estilo na fita. Sensação nova e muito boa.
Os dias passavam devagar, a companhia das pessoas era boa. Os Tchecos são pessoas incríveis, mas estava chegando a hora de voltar para a Alemanha. Foi uma experiência muito intensa, desmontamos o highline um dia antes de eu voltar. Tudo pronto e o próximo destino era Munich. Escolhi viajar pegando caronas até a Alemanha, o que se mostrou muito interessante e eficaz.
0 comentários:
Postar um comentário