1 de dez. de 2014

A comunidade nos Alpes

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Montanhas, Alemão e uma nova perspectiva.
Primeira experiência em highlines de montanha e com muita exposição.
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Após o período na República Tcheca era hora de botar a mochila nas costas e rumar ao próximo destino, que surgiu através de um convite.

O destino eram as montanha no sul da Alemanha na região da Bavária. Para chegar lá precisava primeiro sair de Ostrov. A opção era a carona, o que não seria muito fácil nesse paraíso de poucas pessoas.

Comecei o trajeto com sorte, um fotógrafo e amigo se disponibilizou a me levar até um posto uns 20 minutos de distância, e de lá já peguei uma carona direto pra cidade de Dresden. O curioso é que o motorista e a sua mãe só falavam alemão. E mesmo não tendo conhecimento da língua tivemos uma conversa divertida nesses 40 minutos. Agora com parte do caminho percorrido ainda faltavam 480km para chegar a Munich. Neste trajeto contei com auxílio do rideshare (sistema aonde você divide um viagem com o dono do carro), conseguindo assim ir direto até uma estação de metro da cidade.

Passei uma noite apenas em Munich e segui em direção a Garmish-PartenKirchen. De lá passaríamos para comprar os suprimentos do acampamento, e iniciaríamos a trilha para o local. Nesta região as montanhas já eram parte do relevo dominante, diferindo em muito da região da Saxônia.

Com os ares da montanha e muita vontade demos início a trilha. Com uma quantidade grande de água e comida, já que o plano era ficar uns 7 dias acampado, o suor e cansaço vieram rapidamente. A cada curva revelava-se uma paisagem deslumbrante, montanhas, lagos, nuvens, tudo era presente nesta região fronteiriça com a Austria, facilitando a carregar o peso das mochilas.

Visão para o Zugspitze ( Maior montanha da Alemanha)

Outra cadeia de montanhas.

Chegando ao acampamento o coração batia forte, seria a primeira experiência em Alpes e altas montanhas. Todos que estavam no acampamento eram Alemães, alguns pela primeira vez no local, outros experientes e também alguns dos conquistadores do local.

O local fica situado em uma montanha que é um misto de propriedade privada e parque. O parque tem políticas que proíbem o acampamento, todavia o grupo que frequenta o local tem um acordo informal, liberando o acampamento e o cuidado da área.

O impressionante desse local é sua interação com a natureza, as estruturas e área para acampar vem sendo desenvolvidas com o tempo. Hoje tendo até um espaço comum de convivência, aonde se encontra um avantajado estoque de comida junto a bancada para cozinhar e um local para os materiais dos highlines, tudo trazido pelas trilhas com muito suor por essa comunidade apaixonada.

Tenda principal e área da cozinha.

Após a visão geral do local, era hora de estabelecer acampamento. Escolhi uma plataforma montanha em meio as árvores para montar minha lona, já que não tinha barraca. Era importante se proteger das eventuais chuvas dessa região, assim como das possíveis ventanias. Lona armada e devidamente fixada, era hora de guardar a comida (todo o alimento trazido é compartilhado) e conhecer a área onde estavam armados os highlines.

Visão da minha barraca de alta tecnologia.


É preciso caminhar pela montanha para chegar ao local das travessias. Já estavam montados 4 highlines com distâncias variando de 17 a 40 metros. A maioria destas linhas é acessada por cordas fixas, prática comum na região dos Alpes. A primeira impressão define o lugar como um paraíso. Formações de Granito em forma de agulha por todos os lados, possibilitando uma infinidade de highlines. Após este súbito de felicidade e contemplação fui para a minha primeira travessia no local. Uma linha de 40 metros em direção a uma escarpa que revelava um grande vazio. Sensação ótima e um cartão de visitas melhor ainda.

 Área dos Highlines Foto: Julian Huber

Yuri em um dos highlines desfrutando da exposição.

Alex fazendo o que mais gosta.

Após a diversão nas alturas, o foco era fazer a comida e recarregar as energias. Mas antes tinha uma pequena reunião a beira do cliff para contemplar o por do sol e dar umas risadas. O processo de preparo de comida era muito divertido, pessoal se reunia na tenda e cada um se ocupava de uma atividade. Música, picar legumes, cozinhar a massa, todas estas atividades eram desenvolvidas ao mesmo tempo e de uma total importância para o sabor final da refeição. Após comer rolavam algumas conversas e histórias ao redor da fogueira, que contadas em alemão não faziam o menor sentido. Sinal que era hora de descansar.

Pessoal reunido na beira do cliff.

Yuri e Alex com a mão no pimentão.


No segundo dia, as nuvens deram lugar a um céu azul e muito calor. Neste dia havia sido escolhida uma tarefa, e era a montagem de um novo highline juntamente com o Alex Schutz. As ancoragens já tinham sido feitas por ele no dia anterior, e era necessário "apenas" passar a fita de um lado ao outro. Todavia esta tarefa pode ser bem complicada, principalmente nesta região. A altura e as árvores dificultaram em muito, eu de um lado lidando com as pedras e o alex de outro lidando com as árvores do vale. Subíamos e descíamos inúmeras vezes, desprendendo a corda guia das árvores das pedras e nada, sempre ficava presa em um novo local. Após aproximadamente umas 4 horas conseguimos liberar a corda e iniciar a passagem da fita. Fita passada ancoragens checadas, e mais uma linha estabelecida. A missão do dia tinha sido concluída, montagem do highline de 104 metros com êxito.

Montando o highline.

Como estamos na montanha, as forças da natureza são muito maiores que nossas vontades. O dia amanheceu como o anterior, ensolarado e quente, aproveite então para tirar o atraso e andar nos outros highlines. Agora eram 6 highlines montados, e eu havia andando em um deles apenas. Fiquei na região mais baixa até o meio dia, quando o tempo mudou e começou a chover.

Local perfeito para o highline.

Yuri na linha Cinema.

Alex na primeira tentativa nos 104 metros.

Com a chuva todos reuniram-se na tenda da cozinha, contando que a chuva passasse. Algo que aconteceu bem ao final do dia, possibilitando uma sessão de highline na linha Cinema, que é de frente para o acampamento, por isso leva esse nome. Mais um final de dia cheio de cores e energia.

Highline visto do acampamento no final de tarde.

Nestes primeiros quatro dias, era apenas eu que não era Alemão nesse encontro. O que me deixava muito feliz ao ser acolhido pela comunidade local sem nenhum preconceito. A falta de conhecimento da língua não me impedia em nada de aproveitar as novas experiências e as adoráveis pessoas presentes.

Nos outros dias chegaram mais duas pessoas da Austria e mais amigo da Holanda, mudando assim um pouco a estatística. Todavia parece que com a chegada deles, veio também a chuva. Nos últimos dias tivemos chuva constante. O que não impediu que alguns se aventurassem nos highlines.





As pessoas começaram a ir embora, o grupo que no auge contava com 20 pessoas agora estava resumido a 6. E estes estavam responsáveis por desmontar o acampamento, carregar o lixo restante e manter o ambiente organizado. Nos questionávamos se deveríamos ir embora ou esperar o próximo dia e torcer para a chuva passar. Não tínhamos acesso a internet, apesar do telefone funcionar, ninguém mais tinha bateria. Era uma decisão a ser tomada baseada no instinto, o que levou a levantarmos acampamento. Decidimos que no dia seguinte iríamos acordar, arrumar as coisas e descer a trilha. Só esquecemos de combinar com o clima, a chuva ganhava intensidade e isso não ia nos impedir. Tudo pronto, mochilas carregadas, e era hora de enfrentar a chuva.

O terreno é muito inclinado, o que gerou inúmeros escorregões e quedas, o tempo de trilha foi dobrado, mas a diversão também. Nada melhor que encerrar uma experiência única e transformadora que a famosa roubada com os amigos.

Depois de seis novos highlines atravessados, a primeira experiência em montagem nos alpes, novas amizades. Uma troca de experiências sem igual. Um convívio coletivo exemplar. Estava mais que pronto para o próximo desafio.