19 de nov. de 2014

Uma ilha dentro da ilha

_________________________________________________________________________________
Resumo da postagem
Primeiro highline após a volta da Europa.
Batizado de um gigante azul!!
_________________________________________________________________________________

Após aproximadamente três semanas do meu retorno da Europa consegui voltar a praticar highline em minha linda cidade. Passei estas últimas semanas organizando a casa e as ideias, conhecendo outras cidades e a minha pessoa. Foi um tempo de matar as saudades das pessoas que amamos, escutar histórias, contar tantas outras, e manter o estado de paz.

A escolha para esta primeira investida foram as vias da Lagoinha do Leste. Morros, praias, e uma natureza densa nos esperava. Partimos com o objetivo de acampar por três dias na praia, não imaginávamos que seríamos tão abençoados. Tivemos três dias lindos de céu azul, água clara, ventos brandos e nenhuma expectativa.

Para esta expedição contei com a presença do meu grande amigo e parceiro do slack Vinícius Goulart, Randhy que esta iniciando seus passos no highline e uma pessoa em especial. O Germano Viegas, além de um grande fotógrafo e personalidade impar foi uma das primeiras pessoas que vi praticando e tendo equilíbrio no slackline em Florianópolis. É muito gratificante compartilhar estes dias de muita sintonia com esse grupo.

Os preparativos começaram no final da manhã de sábado. Organizados os equipamentos era hora de combinar o ponto de encontro. Por volta das quinze horas estávamos apostos e prontos para iniciar a trilha. Com tempo e sem pressa chegamos ao local tendo uma janela de três horas de luz.

Seguindo os planos demos início a montagem da Linha Baleia Azul, tudo de forma tranquila e sem pressa. A montagem utilizou alguns equipamentos e técnicas novas. O weblock utilizado foi Sheriff e na ancoragem seguindo os padrões aplicados nos últimos estudos do Slack Science (ambos assuntos serão comentados no TEA essa semana), também mudando e utilizando corda para o backup. Desta vez não havíamos esparadrapado o setup, fazendo-o após a montagem o que necessitava de mais tempo pelo tamanho da linha. Já era um pouco tarde, então alguns seguiram para praia montar o acampamento enquanto era finalizada a montagem. Tudo pronto para o outro dia, agora era hora de arrumar as mochilas e rumar a praia para um merecido descanso.

Vinícius na Jubarte - Foto Germano Viegas (germano.viegas@gmail.com)

Imerso no azul - Foto Germano Viegas (germano.viegas@gmail.com)


Conversa vai conversa vem, algumas xícaras de chá fomos dormir. O local escolhido para as barracas não era o usual embaixo das árvores, o que nos fez acordar com os primeiros raios de sol.

Acordar e contemplar a beleza dessa linda praia, é algo que deve ser vivido. Após uma ótima refeição matinal regada a frutas e um legítimo chá preto, estávamos prontos.

Um pequena caminhada da praia nos leva ao highline. Chegamos e logos começamos a montagem de outro highline, a linha Jubarte primeira a ser estabelecida neste setor. Vinícius ficou responsável pela montagem enquanto eu checava as ancoragens da outra linha e fazia os últimos ajustes. Essa outra linha foi montada com a fita Core 2 LS (low stretch). É uma fita muito macia e mais pesada que as fitas comuns, com 79g/m exige um controle mais lento da ondulação e movimentos mais lentos. Nessa montagem optamos por usar ela dupla, o que deixa o sistema ainda mais pesado e  traz a necessidade de colocar dissipadores de vento, diferentemente quando usamos corda.

Para acabar é necessário esparadrapar algumas partes e colocar os dissipadores, tarefas sob minha responsabilidade. Aproveitei e já voltei andando e sentindo a brincadeira. É uma linha que me sinto muito confortável conseguindo sempre apreciar a beleza do lugar e manter um fluxo de respiração bem calmo. Também gostei muito dos fortes movimentos gerados pelo vento, e que eram intensificados e de certa forma diferentes devido ao peso da fita usada.

Angulo incrível - Foto Germano Viegas (germano.viegas@gmail.com)

Vini na linha - Foto Germano Viegas (germano.viegas@gmail.com)

Jubarte e sua beleza - Foto Germano Viegas (germano.viegas@gmail.com)

Vini e o sol - Foto Germano Viegas (germano.viegas@gmail.com)


Meu foco agora era total na linha maior. Montada com a T-18 MKII, minha fita favorita, e com corda de 9mm de backup, formando um setup bem leve. Combinado há uma tensão de aproximadamente 300 kilos, era só ir e aproveitar essa maravilha.

Essa linha tem uma história bem interessante. Ela foi aberta quanto o Caio Afeto, Gustavo Fontes e Bruno Migueis vieram a Floripa e se juntaram ao pessoal daqui com o objetivo de explorar o local, e divulgar o projeto intitulado HighVibe. Isso foi em Junho do ano passado, e naquela época era um monstro sendo o highline mais longo do Brasil. Ninguém conseguia andar e muito menos entender como se equilibrar com tamanhas oscilações. Nesse período houveram algumas montagens sem muito progresso. Em janeiro desse que ela voltou a ficar montada por um período maior. Tiveram algumas travessias, o alemão Niklas foi o primeiro a consegui atravessar e junto pudemos caminhar em ambas direções, mas nada de Cadena (termo para travessias sem quedas). Como não havia nenhuma travessia limpa, não existia o batismo oficial. Mas essa história veio a mudar.

Esta não seria a minha travessia mais longa, porém uma travessia com grande significado em um local que iniciei meus primeiros passos. Os 70 metros de fita impõem um respeito, são minutos de concentração e foco para cruzar esse highline. Não tinha expectativa alguma, a cada passo me sentia mais confortável, ao final mesmo enfrentando um subida bastante inclinada continue aproveitando cada momento e assim se completava metade da travessia, era preciso voltar. Uma volta mais tranquila, com momentos de pura contemplação e conexão com o local. Agora batizada de fato, a Baleia Azul veio a ser minha amiga. Travessia no estilo a vista Full Man.

É muito azul - Foto Germano Viegas (germano.viegas@gmail.com)

Foto Germano Viegas (germano.viegas@gmail.com)

Foto Germano Viegas (germano.viegas@gmail.com)

Visão da garganta - Foto Germano Viegas (germano.viegas@gmail.com)

Alinhado - Foto Germano Viegas (germano.viegas@gmail.com)


Com a felicidade no rosto, pude assistir e compartilhar mais uma travessia do Vinícius na Jubarte, que mesmo estando um tempo sem pisar no highline, apresentava grande foco no caminhar. Pude presenciar pela primeira vez o Randhy batalhando por seus primeiros passos nessa linha de highline, foi um momento muito bom. Após eles tentarem era a minha vez de brincar um pouco, já que seria desmontada logo em seguida quando o Randhy fosse voltar, já que a fita é dele. Efetuei duas travessias completas de forma bem tranquila aproveitando ao máximo os momentos na fita. Sai da travessia sabendo que era hora do swami (quando não se usa cadeirinha e amarre-se uma fita na cintura). A sensação de não usar cadeirinha era ótima, pernas livres passos calmos pouco a pouco fui entrando no estado de contemplação de uma travessia comum. E travessia foi completa ida e volta, e até o momento minha maior distância usando esta técnica de segurança, 47 metros.

Depois da travessia desmontamos esse highline e voltamos para a praia aproveitar o final do dia. Sol se pondo praia tranquila e o domingo estava chegando ao fim. Comida reforçada para repor as energias e ficar prontos para mais um dia nesse paraíso.

Acordamos no dia seguinte em meio ao mato com o cantar dos pássaros. Fizemos nossa refeição e iniciamos a desmontagem. Com tudo devidamente nas mochilas pegamos o rumo dos highlines novamente. Estávamos agora eu, Vinícius e Germano. O dia era de cartão postal, água de um azul cristalino e com pouquíssimas ondas.

Avistamos a linha, que se destaque entre as pedras. Segundo os amigos estava parecendo um varal. Chegando a base dei muito tempo aos pensamentos e logo estava atravessando. Nesse momento queria me desafiar e curtir, comecei então a andar no bounce (gerando um movimento de subida e descida) e tentando cada vez mais ampliar o movimento. Percebi que a tensão baixa não ajudava muito, a fita não retornava com muita energia chegando ao seu ponto morto com poucos metros. Permaneci uns 30 minutos na fita, a maior parte no meio tentando algumas manobras dinâmicas, e em seguida caminhando até as ancoragens. Sai bastante cansado e feliz o sol era forte.

Foto Germano Viegas (germano.viegas@gmail.com)

Mais uma desse lugar incrível - Foto Germano Viegas (germano.viegas@gmail.com)


Desmontamos todo o equipamento, preparamos as mochilas para voltar, mas antes iríamos mergulhar e aproveitar aquelas águas azuis. De alma lavada e renovado voltamos e encerramos mais este capítulo em nossas vidas. Saindo da ilha ao encontro de outra!