29 de out. de 2015

Do litoral aos Alpes e sua comunidade EFERVECENTE




Durante minha experiência viajando pela Europa cultivei bons amigos e de quebra tive acesso a um vasto conhecimento. Apesar do surgimento do esporte em terras americanas, o grande desenvolvimento de técnicas e crescimento de praticantes vem da Europa.

O slackline passa por um momento de grande expansão. São mais praticantes, locais, simpatizantes e leigos. O esporte esta interagindo com um número muito grande de pessoas em todo o mundo. Isto é muito positivo, porém traz responsabilidades e o desafio é entre tantos aspectos uma comunicação efetiva com todos estes distintos públicos. E através destas demandas, associações, federações e grupos estão assumindo o papel da comunicação. O slackline e a sociedade civil criam assim, um bom relacionamento que busca laços de informação e longevidade.

A necessidade de uma interlocução entre as federações existentes os grupo de praticantes e a grande população que não conhece e interage com o esporte ao assistir, observar e iniciar no esporte criam uma demanda de uma organização superior que guie todos estes aspectos. Durante aproximadamente um ano, um grupo compostos por membros de federações e associações se reuni com o objetivo de analisar, armazenar e gerar informações. Com estas discussões ganhando em conteúdo e representatividade a pauta da criação de uma federação mundial ganha cada vez mais força e apoio da comunidade.

Em agosto um grande grupo de pessoas estava se propondo a interagir no formato de um workshop. Liderada pela federação da Suíça e da Austria o encontro intitulado em Slackline in Public Spaces (Slackline em áreas públicas) tinha em sua proposta interações com o público em três locais na cidade de Bern, contemplando as disciplinas do waterline, longline e highline. E com estas interações conversar com os passantes e coletar informações pertinentes. Foram cinco dias de muita discussão sobre o slackline e seu vasto campo de modalidades e práticas e como criar uma comunicação dos diferentes grupos envolvidos com os não praticantes. Como resultado deste brainstorm coletivo foram gerados documentos, fliers de conteúdos diversos que você pode acessar neste link (notícias ISA). Tudo isto de forma interativa e coletiva, com cada participante contribuindo conforme sua habilidade e seu interesse em um ambiente efervescente e único.

Interagindo nas ruas

Deliciosa comida vegana. 

Em um dos locais que aconteceu o workshop.

Local dos waterlines
Foto: Pedro Caetano

E o local dos midlines.



Com todo este conteúdo humano reunido, representando federações e associações uma intensa discussão se sucedeu à respeito da formalização da ISA (Federação Internacional de Slackline). Com a presença dos presidentes das federações dos EUA, Suíça, Alemanha e Austria depois de dias discutindo estatuto e diretrizes surge o início formal de um grande trabalho a ser feito. Muita coisa precisa acontecer para que esta Federação Internacional seja ativa e representativa em todos os países e em suas características. Com a proposta de um diálogo aberto, pretende ter a representatividade dos praticantes e de todos envolvidos em suas ações voltadas ao slackline como esporte e arte.

Assinatura dos papeis ISA.


Pude através da minha presença neste grande momento do esporte conversar e expor a minha visão do cenário brasileiro diante o slackline. A ISA tem grande interesse em ter o Brasil participando das conversas e sendo membro. Isso proporciona excelente oportunidades tanto para o cenário mundial como para o slackline no Brasil. Surge uma série de informações e conhecimento recentes de forma compartilhada disponibilizados em território nacional. Este tipo de conhecimento favorece ao crescimento e sustentação do slackline, que é um lindo esporte e estilo de vida. 

Este encontro ocorreu na cidade de Berna, que além de ter todo as particularidades da Suíça é o local para um dos maiores festivais de slackline do mundo. O Bern City Slack, acontece em um camping da cidade e conta com um público passante de cerca de três mil pessoas.

Além deste grande público, reuni um grupo de atletas entre os mais experientes do highline e longline mundialmente. Trazendo produções em primeira mão e técnicas de montagens únicas. Todo este público interagindo através da mesma vibração, vivendo o presente e sorrindo para os novos desafios. São três dias de evento em pleno verão, mais que um convite para a população conhecer o esporte.

É a segunda vez que eu tenho a possibilidade de interagir neste agradável encontro. Este ano aconteceu minha participação de forma repentina, enquanto no ano de 2014 eu vinha de uma experiência mais longa ao viajar pela Europa sem muitos destinos e expectativas.

Seção de Acro matinal.



Foto: Tobias Rodenkirch

Foto: Tobias Rodenkirch

Sam caminhando na fita de 60 kg Foto: Tobias Rodenkirch


Lindo rio Aaere Foto: Aurelian Edelmann

Foto: Aurelian Edelmann
Surfando no limite. Foto: Oli



Neste ano como nos anos anteriores, foi montada um longline com ancoragens humanas com cerca de cem metros. A linha foi montada com aproximadamente 25 pessoas em cada lado e foi utilizada uma fita de Dyneema para facilitar ao tensionamento. A pessoa escolhida para andar foi Aaron Andrijanic, jovem morador da cidade e assíduo praticante de slackline. Sua caminhada foi segura e tranquila, no estilo à vista (primeira tentativa). Ao concretizar a caminhada um nova recorde mundial era estabelecido. 

Finalizando a travessia Foto: Thomas Buckingham

Foto de encerramento com os Slackers Foto: Sarah


Este encontro é a primeira parada para as atividades do TransAlp Waterline Tour (Circuito de Waterline através dos alpes). Ele inicia com uma reunião entre todos interessados, aonde é repassada por parte dos organizadores as recomendações e a programação das atividades. Com uma característica itinerante a logística e o deslocamento demandam grande atenção. Este ano, devido ao maior número de participantes as paradas foram divididas em dois locais. Cortando a inusitada parada nos lagos gelados de Gottard Pass. Tal decisão acontece devido a falta de estrutura no local para abrigar tantas pessoas. Assim o foco fica nos maiores lagos e suas possibilidades.

O Waterline tour por ser itinerante trás um ar de novidade em cada local. A parada em Zion é incrível, águas quentes e uma comunidade local muito ativa e apaixonada pelo slackline. São eles os responsáveis por inovar na construção de estruturas para ancoragem dos waterlines . Este ano a estrutura estava muito diferente, com a possibilidade de ancorar três fitas simultaneamente com uma altura de 4 metros em relação a água. 

Foto: Aurelian Edelmann
Foto: Aurelian Edelmann
Estrutura de 2014 Foto: Pedro Caetano


Contando com participantes de peso presente, as possibilidades foram aumentando em distância e novos waterlines de 147 e 150 foram montados com ancoragens na casa dos 7 metros de altura. Para garantir um maior aproveitamento, foram instalados leash (cordas de segurança). Poder caminhar em um waterline dessa magnitude em uma fita de nylon (dinâmica) é muito bom, traz a possibilidade de inovar nos bounces e todos os movimentos que o slackline proporciona. 

Foi um total aproximado de 10 waterlines montados com distâncias variando entre 30 e 150 metros, com fitas de todos os materiais. Mas seguindo a tendência de movimentos mais dinâmicos e soltos, a grande maioria foi montada em nylon, principalmente as mais longas.

Com todo este parque de diversões armado pude me conectar rapidamente a um estado de calma e passos controlados. Consegui assim melhorar um pouco minha mais longa travessia de waterline (modalidade sobre a água) percorrendo uma distância de 110 metros. Também pude andar muito nas distâncias mais longas, aproveitando muito estas possibilidades. Através de momentos muito alegres eu me motivava ainda mais. 

Waterline de 110 metros Foto: Pedro Caetano

Depois de três dias neste belo lugar chegava o dia de pegar a estrada desarmar os slacklines rumo a Flims, cidade entre as famosas montanhas e alps Suíços. No ano de 2014, este lugar ficou muito marcado em minhas recordações. O seu lago de águas cristalinas e calmas proporciona um cenário fantástico para os esportes aquáticos. São pedalinhos, standup paddles e muitos waterlines para a diversão de todos os presentes. 

Foto: Pedro Caetano

Foto: Pedro Caetano

Neste ano, o número de pessoas esperado para esta parada era bem grande, trazendo mais cores e personalidade para este belo pedaço de natureza, o lago Caumasee. Porém o tempo não ajudou muito e com a chuva veio o frio, decorrente da altitude de aproximadamente mil metros acima do nível do mar. Frio em pleno verão. 

Para ter um melhor conforto nos waterlines, a maioria dos praticantes trouxe suas roupas de borracha, o que além de protegerem contra o frio adicionavam uma proteção extra contra as quedas.





Mas nem o frio e nem a chuva impediram que os limites do esporte fossem mais uma vez superados. Foram montadas duas linhas que eram possíveis recordes mundiais. Uma com 200 metros de distância montada com a adorável e minha favorita T-18 MKII da Balance Community que seria o recorde de distância se tratando de fitas de poliamida (Nylon) e uma de 340 metros em Dynnema que seria o recorde em maior distância atravessada sobre a água.

Julian na exposição na linha de 340.
 Foto: Aurelian Edelmann

Não demorou muito e ambos os recordes foram quebrados. Mas mesmo com estas importantes marcas o foco continuava sendo a diversão e a superação dos limites pessoais. Nestes encontros é possível perceber a importância de sermos presentes e verdadeiros, a energia que as pessoas que vivem neste estado de consciência transmitem é muito forte e contagiante. Muitos dos aprendizados são passados de forma não verbal, por gestos sentimentos e olhares. Um grande espírito de família toma conta. E como qualquer despedida, é difícil dizer tchau e voltar para nosso lar deixando esta família que sempre acolhe de braços abertos.




Entre amigos. Foto: Aurelian Edelmann

Foto: Aurelian Edelmann

Mas uma experiência de muitos aprendizados. Foi um momento de um novo despertar, de mudança de rumos e uma certeza continua sendo muito vigente, o slackline me ensina a cada dia ser uma pessoa melhor.